quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A primeira postagem de 2012


Feliz Natal e Feliz Ano Novo a todos!

Perdoem-me pela demora em postar algo. É que são tantas coisas...
Mas, vamos lá!
O texto a seguir é do Dr. Jeff Mirus. O original em inglês pode ser acessado clicando aqui.
A tradução para o português é do jovem Luís Augusto Rodrigues Domingues, de Teresina. Outras traduções e textos dele podem ser encontrados no Blog da ARS.
Esperamos com este texto ajudar tantas pessoas que vivem o estigma da homossexualidade.
Em caso de erros na tradução, favor comentar esta postagem que encaminharemos ao tradutor.
Boa leitura!


Homossexualidade:

Um chamado especial para o amor a Deus e ao Homem

Dr. Jeff Mirus

A maioria de nós é forçada, pelas circunstâncias culturais, a falar muito mais do que gostaria sobre homossexualidade. Por causa do persistente desafio moral apresentado pela militância gay, a maior parte do que temos a dizer é negativa. Isto me incomoda porque é apenas mais um fardo para aqueles que têm inclinações homossexuais e que são comprometidos a viver castamente, de acordo com os ensinamentos de Cristo e de Sua Igreja. Assim, gostaria de separar um momento, fora das guerras culturais, para olhar para as coisas a partir da perspectiva destes corajosos homens e mulheres, para quem creio estarmos em significante débito.

A sexualidade é uma parte importante de nossa identidade como pessoas. Com isto refiro-me primeiramente à questão de sermos macho ou fêmea, o que é parte da definição essencial de quem nós somos. Não quero dizer que nossas inclinações sexuais são parte da definição de nosso ser no mesmo sentido. Inclinações, embora bem enraizadas, não nos definem pela simples razão de que nós podemos domá-las. Por exemplo, eu não posso mudar o fato de eu ser macho, não importa o quanto de autodomínio eu tenha ou alcance, mas eu posso controlar a uma medida considerável o quanto minha masculinidade se expressa e posso até mesmo alterar ao longo do tempo o grau a que eu me sujeito às tentações que tipicamente afligem os machos. Sim, minhas inclinações são parte de mim, mas elas não me definem.

Ao mesmo tempo, as inclinações sexuais desempenham um grande papel em nossas vidas porque elas estão estreitamente ligadas às nossas identidades essenciais. O Catecismo da Igreja Católica expressa bem isto no n. 2332: “A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar, e, de um modo mais geral, à aptidão para criar laços de comunhão com outrem.” O Catecismo prossegue dizendo que deveríamos “reconhecer e aceitar” nossa “identidade” sexual – isto é, nossa masculinidade ou feminilidade:

A diferença e a complementaridade físicas, morais e espirituais orientam-se para os bens do matrimônio e para o progresso da vida familiar. A harmonia do casal e da sociedade depende, em parte, da maneira como são vividos, entre os sexos, a complementaridade, a necessidade mútua e o apoio recíproco. (2333)

Provação e Cruz

Para a esmagadora maioria de homens e mulheres, é um dos mais significativos projetos de vida moral, espiritual e psicológico integrar, controlar e canalizar um amplo conjunto de inclinações sexuais que essencialmente se encaixam neste modelo natural, este modelo de complementaridade e de apoio mútuo entre homens e mulheres. Alguns podem voluntariamente renunciar à expressão física desta complementaridade, adotando a virgindade por causa do Reino; outros podem fazê-lo por não terem a oportunidade de casar-se e por desejarem ser castos. Obviamente, ambas as situações podem ser desafiadoras, e a aceitação do estado de solteiro involuntário pode ser um pesada cruz.

Mas uma pessoa com inclinações homossexuais encara um desafio ainda maior. Ele ou ela não deve meramente integrar, controlar e canalizar suas inclinações sexuais, mas deve renunciá-las todas juntas amplamente, não só em sua expressão física, mas também numa extensão bem maior da afetividade, que é condicionada, mesmo em pequenas formas, pela interação sexual: interesse aumentado, um senso de romance, uma ternura especial. É verdade que um sacerdote celibatário deve ser muito cuidadoso com o que poderíamos chamar de afetividade tingida sexualmente, na teoria de que uma coisa leva à outra. Mas a pessoa com persistentes inclinações homossexuais deve suprimir ou redirecionar tais inclinações a uma extensão ainda maior. Este é um enorme desafio.

Agora considere uma tal pessoa numa cultura que está pressionando a todo vapor para que se abrace, se aprove e se glorifique esta mesma afetividade a qual ela é chamada por Cristo a suprimir ou redirecionar. E, finalmente, considere ele (ou ela) numa subcultura de castidade em que se deve constantemente ouvir argumentos contra os posicionamentos dos gays (ou seja,aqueles que advogam um estilo de vida especificamente homossexual), argumentos que às vezes são grosseiramente expressos de formas que denigrem os “homossexuais” de um modo geral e que, mesmo se não são grosseiros, põem sempre suas conflituosas inclinações sexuais diante da mente. Nesta subcultura de castidade – esperamos que seja uma subcultura cristã – outros devem encontrar refúgio de sua longa e cansativa preocupação com suas defesas sexuais, mas não ele.

Quem de nós, em nossos mais altos voos de piedade sacrifical, suplicaria a Deus para carregar esta cruz em particular?

Percepção e Desordem

Num vácuo cultural, deve ser relativamente fácil entender intelectualmente que as inclinações homossexuais são desordenadas. Deve ser bastante claro que as faculdades sexuais são tanto naturalmente ordenadas para a propagação e a preservação das espécies como sobrenaturalmente ordenadas a um tipo de união entre o homem, a mulher e a criança, que espelha a fecundidade essencial do amor Divino. Quando alguém percebe que suas próprias inclinações sexuais não tendem na direção desta união e fecundidade – ou mesmo a esta capacidade de reproduzir – pode-se perceber uma desordem bem definida nestas inclinações. Pode haver algo que se possa fazer para alterá-las. Elas podem ser um conjunto muito confuso de inclinações ligadas a experiências ou hábitos passados, e bem passível de mudança ao passo em que se deixam essas experiências e hábitos. Ou então pode não haver maneira alguma de eliminá-las. Não obstante, que elas sejam desordenadas, isso se pode apreender pelo intelecto.

Mas estamos decaídos, e nossos intelectos obscurecidos, e as ideias predominantes da cultura que nos envolve frequentemente os obscurecem mais e mais. Pode ser muito difícil enxergar o que deve ser óbvio. Em nossa própria cultura, sexualidade é comumente visualizada do ponto de vista do prazer imediato que isso pode proporcionar; seus significados mais profundos e as consequências a longo prazo são tipicamente ignorados. A maioria das pessoas escorrega para dentro de um estilo de vida baseado nesta compreensão relativamente superficial da sexualidade através da prática da contracepção, que distorce a natureza da sexualidade e parece permitir uma definição mais casual. Eis por que, em se tratando da questão da contracepção dentro do matrimônio, o Catecismo cita a Exortação Apostólica Familiaris Consortio (32), de João Paulo II:

“À linguagem que exprime naturalmente a doação recíproca e total dos esposos, a contracepção opõe uma linguagem objetivamente contraditória, segundo a qual já não se trata de se darem totalmente um ao outro. Daí deriva, não somente a recusa positiva da abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interna do amor conjugal, chamado a ser um dom da pessoa toda. [...] Esta diferença antropológica e moral, entre a contracepção e o recurso aos ritmos periódicos, implica dois conceitos de pessoa e de sexualidade humana irredutíveis um ao outro”.

Uma cultura que é construída sobre a premissa de que o significado de sexualidade se esgota em sua capacidade de ser manipulada em vistas do prazer imediato não se possibilita chegar a julgamentos intelectuais bem formados sobre o que é e o que não desordenado. A questão simplesmente nem é levantada. Nossa cultura, portanto, é uma enorme barreira para a autocompreensão de todos os homens e mulheres, e ela coloca obstáculos particulares no caminho daqueles que estão tentando compreender, alterar ou ao menos conviver em paz com suas inclinações por pessoas do mesmo sexo.

Alcance Afetivo

Aqueles de nós cuja afetividade humana não se tornou fundamentalmente problemática pela desordem das inclinações homossexuais devem achar difícil de perceber quão profundamente e de modo tão abrangente nossa afetividade colore nossas vidas inteiras e todos os nossos relacionamentos. Todos nós temos que aprender a controlar nossos gostos e desgostos, nossas reações emocionais, nossas tendências a favorecer alguns e ignorar a outros, o modo como cumprimentamos, o tanto de flerte ou paquera que é aceitável, e o grau em que permitimos atrações que são pelo menos parcialmente sexuais colorirem nosso comportamento. Também aprendemos a moldar a expressão de nossa masculinidade ou feminilidade de vários modos, suavizando arestas, refreando-nos, adaptando-nos à situação.

Para aqueles com uma afetividade heterossexual propriamente ordenada, há um deleite subconsciente geral na interação entre o masculino e o feminino, um sentido de diferença e complementaridade e alegre mistério. Nestas ocasiões, quando agimos inadequadamente, as consequências podem ser desagradáveis, mas tanto nosso alcance afetivo como nossos equívocos são geralmente entendidos. Temos que aprender a comportar-nos de modo diferente – guiando e canalizando nossa afetividade de modo mais adequado e produtivo – mas não temos que suspeitar, rejeitar ou alterar sua orientação básica. Embora nossa sexualidade dê tons e influencie mais ou menos o que fazemos, de forma bem sutil, não há nada sobre isso que devamos fundamentalmente colocar em questão ou duvidar.

Este não é o caso para aqueles cuja afetividade está persistentemente imbuída de inclinações homossexuais. A atração que eles encontram como natural, misteriosa ou até mesmo emocionante será percebida pela maioria das pessoas como algo inexplicável e até repulsivo. Se alguém procura conforto e consolo na companhia da pequena minoria que compartilha estas atrações, os perigos são óbvios. Mas ainda o não fazer isso pode forçar alguém a questionar quanto à própria afetividade em praticamente todos os níveis. Por que tanto do que sinto e de como interajo com os outros está imbuído de um padrão sexual que os outros não podem entender e que costumam rejeitar violentamente? Minha perspectiva inteira e toda minha atitude rumo à vida e ao amor estão fundamentalmente quebradas, danificadas? Sou incapaz de amar? Será que sou até mesmo indigno do amor?

Não tenho dignidade? Se nossa própria afetividade é suspeita, como pode esta questão não surgir? Não quero exagerar. Ainda que toda dificuldade humana possa ser atribuída a alguma classe [de indivíduos], cada dificuldade permanece sobretudo como algo pessoal. A profundidade e a consistências de nossos sentimentos são algo muito pessoal, e pessoas diferentes certamente experimentarão o problema das inclinações homossexuais de formas diferentes, em diferentes graus, e com maior ou menor impacto sobre conceitos mais amplos relativos à sua integridade e valor fundamentais enquanto pessoas humanas. Em geral, todavia, parece ser justo que a questão da auto-estima deva estar por cima sempre que a natureza fundamental da afetividade de alguém for posta em questão. Sendo assim, com esta cruz particular, é provável que surja a tal questão.

Afirmação e Missão

Alguns admiráveis benfeitores do CatholicCulture.org escreveram-me sobre isso, expressando algo de suas provações, suas lutas, sua esperança e sua fé. Isto tem sido inspirador para mim, e estou ainda mais convencido, através destas partilhas, de que sempre que questões devastadoras se levantam na mente e no coração de alguém com persistentes inclinações homossexuais, estas questões devem ser respondidas decisivamente – e sem nenhuma hesitação momentânea – de uma forma que afirme a pessoa como alguém que é amado por Deus e a quem foi confiada uma missão especial.

A tradição Católica é rica no entendimento das almas vítimas, aquelas que parecem ter sido colocadas na terra sobretudo para sofrer fisicamente, talvez por alguma enfermidade ou até mesmo por uma paralisia por toda a vida, abraçando ainda a missão de amar as almas e crescendo numa intensa e frutuosa união com Deus. Todos nós, é claro, somos almas vítimas de uma maneira menor em que cada um de nós tem suas próprias cruzes, tantas das quais são oportunidades para crescimento espiritual e cooperação com Cristo: “O que falta às tribulações de Cristo”, diz São Paulo, “completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24). Assim devemos ser todos nós, se somos Cristãos, e deveríamos nos alegrarmos com as oportunidades. Não obstante, é claro que algumas almas são marcadas para uma missão particularmente óbvia de sofrimento redentor.

Todos nós somos afligidos por deficiências, defeitos e desordens em nossa natureza humana, como resultado da Queda, mas nenhuma deficiência, defeito ou desordem nos vem por acaso. Em todo caso, portanto, essas coisas são cruzes a ser abraçadas pelo nosso próprio bem e pelo bem de outros. E em alguns casos, a deficiência, defeito ou desordem particular oferece um sinal de oportunidade. Trata-se de uma oportunidade de carregar a cruz como uma testemunha particular de algum aspecto da vida Cristã que precisa ser revigorado para que as almas cresçam e prosperem no amor de Deus.

Agora, novamente, algumas pessoas podem achar que são capazes de libertar-se das inclinações homossexuais através de uma mudança no estilo de vida, através de terapia e de oração. Mas é sem dúvida claro que, enquanto são afligidas por esta desordem, elas são chamadas a ser castas. Consideremos novamente o Catecismo (2359):

“As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã”.

Note-se, porém, que algo de precioso segue-se daqui. As pessoas homossexuais, exatamente pela natureza de sua cruz particular, devem elevar a castidade a uma altura especial, tratando não apenas com uma tentação física, mas com o amplo leque de sua própria afetividade humana. Resulta que aqueles que devem sofrer esta desordem no decorrer de sua vida foram escolhidos por Deus para dar um testemunho particular e exaltado à virtude da castidade. Isto é vocação, tão bela quanto árdua, e é de se duvidar que sua importância, para nossa era saturada de sexo, possa ser subestimada.

Deve-se ter cuidado ao empregar termos simples para descrever os outros, dado que tais termos obscurecem mais do que esclarecem, e porque minimizam a rica diversidade da personalidade humana. Mas eu usarei o termo simples aqui pela primeira e única vez neste artigo: O homossexual é chamado a ser uma testemunha especial e extraordinária para o triunfo do amor sobre o sentimento. Existe nisso, penso eu, uma analogia à noite escura da alma. É o próprio Amor que chama o homossexual, talvez numa espécie de escuridão, e é no Amor tão somente – e não no sentimento – que ele trará muitas almas para o céu em seu rastro.


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