quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sobre o verdadeiro sentido da Santa Missa

Trazemos a seguir um texto compacto, porém de grande valia para o entendimento do real sentido da Santa Missa e de como devemos nos portar na mesma. São textos de papas e santos de nossa Igreja, refletindo portanto não a opinião de grupos e/ou segmentos, mas da própria Igreja, Una, Santa e Católica.

Boa leitura!

“Num contexto eclesial ou outro, existem abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento. Às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa.” (João Paulo II. Carta Encíclica Ecclesia De Eucharistia, 10)

“Uma liturgia participativa é importante, mas uma que não seja sentimental. A liturgia não deve ser simplesmente uma expressão de sentimentos, mas deve emergir a presença e o mistério de Deus no qual ele entra e pelo qual nós nos permitimos ser formados.” (Papa Bento XVI, durante viagem apostólica ao Benim, África, em novembro de 2011)

“O augusto sacrifício do altar não é, pois, uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima. Uma e idêntica é a vítima: aquele mesmo, que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes, se ofereceu então sobre a cruz; é diferente apenas, o modo de fazer a oferta”. (Pio XII. Mediator Dei, 61)

“Amai Jesus presente na Eucaristia. Ele está presente de modo sacrifical na Santa Missa, que renova o Sacrifício da Cruz. Ir à Missa significa ir ao Calvário para nos encontrarmos com Ele, nosso Redentor.” (João Paulo II. Discurso aos jovens e crianças de associações e paróquias italianas em 08/11/1978)

“Em virtude da sua íntima relação com o sacrifício do Gólgota, a Eucaristia é sacrifício em sentido próprio, e não apenas em sentido genérico como se se tratasse simplesmente da oferta de Cristo aos fiéis para seu alimento espiritual.” ((João Paulo II. Carta Encíclica Ecclesia De Eucharistia, 13)

“Eis o meio mais adequado para assistir com fruto a Santa Missa: consiste em irdes à igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes diante do altar como o faríeis diante do Trono de Deus, em companhia dos santos anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que Deus costuma conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos.” (São Leonardo de Porto Maurício.)

Vejamos o que o grande Papa São Pio X explica para nós acerca do Santo Sacrifício da Missa:

O sacrifício, em geral, consiste em oferecer a Deus uma coisa sensível, e destruí-la de alguma maneira, para reconhecer o supremo domínio que Ele tem sobre nós e sobre todas as coisas.

“A santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das espécies de pão e de vinho, em memória do sacrifício da Cruz. O Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da Cruz, porque o mesmo Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se oferece pelas mãos dos sacerdotes seus ministros, sobre os nossos altares, mas quanto ao modo por que é oferecido, o sacrifício da Missa difere do sacrifício da Cruz, conservando todavia a relação mais íntima e essencial com ele. Entre o Sacrifício da Missa e o sacrifício da Cruz há esta diferença e esta relação: que Jesus Cristo sobre se ofereceu derramando o seu sangue e merecendo para nós; ao passo que sobre os altares Ele se sacrifica sem derramamento de sangue, e nos aplica os frutos da sua Paixão e Morte.

Para que fins se oferece o Santo Sacrifício da Missa?

Oferece-se a Deus o Santo Sacrifício da Missa para quatro fins:

1) Para honrá-Lo como convém, e sob este ponto de vista o sacrifício é latrêutico;

2) Para Lhe dar graças pelos seus benefícios, e sob este ponto de vista o sacrifício é eucarístico;

3) Para aplacá-Lo, dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados, para sufragar as almas do Purgatório, e sob este ponto de vista o sacrifício é propiciatório;

4) Para alcançar todas as graças que nos são necessárias, e sob este ponto de vista o sacrifício é impetratório.

Para ouvir bem e com fruto a Santa Missa são necessárias duas coisas:

1) Modéstia exterior – Consiste particularmente em estar modestamente vestido, em observar o silêncio e o recolhimento.

2) Devoção interior – O melhor modo de praticar a devoção interior ao ouvir a Santa Missa é o seguinte:

  • Unir-se, desde o começo, a própria intenção à do sacerdote, oferecendo a Deus o Santo Sacrifício para os fins por que foi instituído;
  • Acompanhar o sacerdote em cada uma das orações e ações do Sacrifício;
  • Meditar a Paixão e morte de Jesus Cristo e detestar, de todo o coração, os pecados que Lhe deram causa;
  • Fazer a comunhão sacramental, ou ao menos a espiritual, ao tempo em que o sacerdote comunga.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mais uma Missa de Formatura em Teresina...

Ontem tive o desprazer de participar de mais uma missa de formatura. Digo isto não pela pessoa que me convidou, nem pela missa enquanto sacrifício de Cristo, Deus o sabe! Digo-o exatamente pelo contrário: pelos excessos, abusos e distorções presentes, com o único intuito de agradar a pessoa humana, porém resultando num inegável abandono do sagrado.

A referida missa deu-se em uma das igrejas onde mais se celebra este tipo de missas na cidade de Teresina, porém seu pároco, que não sei se estava de férias, cedeu o lugar para outro de menor estatura, porém bem mais ilustre.

A Igreja estava superlotada, com diversas pessoas em pé e outras do lado de fora. É que a turma de formatura era realmente bem grande, e cada um dos formandos estava acompanhado de seus familiares e amigos. Ah, era uma formatura de Medicina de uma faculdade particular. Talvez o curso justificasse a presença do padre.

O nosso padre estava bem animado durante toda a missa, acompanhando com fervor os cantos, que foram cantados de forma muito bela, numa perfeita harmonia de vozes pelo grupo musical contratado. O problema é que a reta liturgia passou foi longe dali, pois a grande maioria dos cantos eram impróprios e antilitúrgicos! Só para citar um exemplo, o Salmo foi substituído por aquilo que chamam de “canto de meditação”.

Os textos litúrgicos também foram “enfeitados”. A oração da paz quase dobrou de tamanho, com os enxertos que o sacerdote ilegitimamente fez. Além disso, a missa foi repleta dos comentários que esse povo das empresas de eventos gostam de colocar. O comentário antes da primeira leitura foi quase tão grande quanto a leitura, e olhem que não estou exagerando!

Após o evangelho tivemos um belíssimo discurso. Sim, discurso! Porque aquilo não podia ser chamado de homilia, sermão ou pregação. Foi realmente um discurso social, centrado na pessoa dos formandos. Foi hilário quando o nosso “monsenhor” comparou os médicos com o bom samaritano e disse, acerca do samaritano: “Não sei se ele vinha pitando seu cigarrinho de palha ou se vinha cantando as canções do povo de Deus...”

É triste, porque com uma igreja com tanta gente, poderíamos ter tido uma missa santificante e quem sabe metade dos presentes, alguns bem renomados nesta capital, ao fim da Missa, desejariam ser verdadeiros católicos. Buscariam a confissão, buscariam a eucaristia. Mas não... Aquela foi apenas uma missa enfadonha e massante, daquelas que você pede a Deus para terminar logo. Uma mistura de show com discurso, para alisar o ego de muita gente e ferir o Coração de Deus.

Ao menos as palavras da Consagração foram mantidas. Ufa! Tendo um ministro qualificado, a fórmula correta, a matéria devida e quero quer que a reta intenção do sacerdote, Cristo esteve presente naquela missa. Sobrevoando a igreja viu-se por várias vezes um morcego cinzento, fazendo as vezes da pombinha branca no Batismo do Senhor, porém representando não o Deus Altíssimo, mas o Outro. Quase que ouvi uma voz oriunda das profundezas, dizendo acerca do ministro: “Eis o meu filho amado, em quem ponho o meu agrado”.

Além da presença real de Jesus na Santa Eucaristia, o que salvou a missa foi uma jovem que subiu ao altar por convite de seu tio, o padre concelebrante, quando disse que desde criança ia comungar pedindo a Jesus para ser médica quando crescesse. Esta foi uma bela demonstração de fé e de entrega nas mãos de Deus!

É, meu povo, o negócio é sério! E o padre ainda dizia várias vezes que era o nosso “irmão mais velho”... Mon seigneur, o povo precisa é de autênticos pastores, pois brothers a TV já oferece há um tempão! O que precisamos é de alguém que defenda a Sagrada Liturgia e dê um basta nesta farra licenciosa que acontece em volta dos altares de Teresina, principalmente em cada formatura e casamento.

Que venha depressa o novo bispo, mas que seja não um homem de “escuta e de diálogo”, mas um líder espiritual capaz de determinar seguramente os caminhos a serem seguidos não só pelo povo de Deus simples, mas em primeiro lugar pelos sacerdotes, que tem tornado possível esta imoralidade dentro da Igreja de Jesus. Esperamos um arcebispo comprometido em tornar concretos os desejos do Santo Padre.

A Igreja é lugar sagrado. Ela já possui seus cerimoniários e seus músicos, verdadeiros ministros de Deus, fieis à Santa Igreja, por vezes homens e mulheres simples, humildes, mas que executam seu serviço não por dinheiro, mas por amor e zelo. Que o novo bispo proíba essa corja materialista de usar a Casa de Deus para seus negócios. Vamos dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!

Enquanto isso não acontece, já estou montando meu kit para a próxima formatura: caneta e papel, para anotar em minúcias as barbaridades cometidas, e um terço para ficar rezando em desagravo ao Sagrado Coração de Jesus.

Graças a Deus a noite não terminou apenas nisso. Após a missa fui para a festa de um dos formandos e lá encontrei um homem de Deus em meio aos convidados, todo de preto, com clergyman e uma grande cruz sobre o peito. Ao passar por mim, perguntei se era padre e me disse que sim. Obviamente não era de Teresina, era do Maranhão, amigo da família. Pedi sua bênção ao que prontamente ele me abençoou.

Graças a Deus! Ainda existem sacerdotes exemplares. Ainda existe esperança!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A primeira postagem de 2012


Feliz Natal e Feliz Ano Novo a todos!

Perdoem-me pela demora em postar algo. É que são tantas coisas...
Mas, vamos lá!
O texto a seguir é do Dr. Jeff Mirus. O original em inglês pode ser acessado clicando aqui.
A tradução para o português é do jovem Luís Augusto Rodrigues Domingues, de Teresina. Outras traduções e textos dele podem ser encontrados no Blog da ARS.
Esperamos com este texto ajudar tantas pessoas que vivem o estigma da homossexualidade.
Em caso de erros na tradução, favor comentar esta postagem que encaminharemos ao tradutor.
Boa leitura!


Homossexualidade:

Um chamado especial para o amor a Deus e ao Homem

Dr. Jeff Mirus

A maioria de nós é forçada, pelas circunstâncias culturais, a falar muito mais do que gostaria sobre homossexualidade. Por causa do persistente desafio moral apresentado pela militância gay, a maior parte do que temos a dizer é negativa. Isto me incomoda porque é apenas mais um fardo para aqueles que têm inclinações homossexuais e que são comprometidos a viver castamente, de acordo com os ensinamentos de Cristo e de Sua Igreja. Assim, gostaria de separar um momento, fora das guerras culturais, para olhar para as coisas a partir da perspectiva destes corajosos homens e mulheres, para quem creio estarmos em significante débito.

A sexualidade é uma parte importante de nossa identidade como pessoas. Com isto refiro-me primeiramente à questão de sermos macho ou fêmea, o que é parte da definição essencial de quem nós somos. Não quero dizer que nossas inclinações sexuais são parte da definição de nosso ser no mesmo sentido. Inclinações, embora bem enraizadas, não nos definem pela simples razão de que nós podemos domá-las. Por exemplo, eu não posso mudar o fato de eu ser macho, não importa o quanto de autodomínio eu tenha ou alcance, mas eu posso controlar a uma medida considerável o quanto minha masculinidade se expressa e posso até mesmo alterar ao longo do tempo o grau a que eu me sujeito às tentações que tipicamente afligem os machos. Sim, minhas inclinações são parte de mim, mas elas não me definem.

Ao mesmo tempo, as inclinações sexuais desempenham um grande papel em nossas vidas porque elas estão estreitamente ligadas às nossas identidades essenciais. O Catecismo da Igreja Católica expressa bem isto no n. 2332: “A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar, e, de um modo mais geral, à aptidão para criar laços de comunhão com outrem.” O Catecismo prossegue dizendo que deveríamos “reconhecer e aceitar” nossa “identidade” sexual – isto é, nossa masculinidade ou feminilidade:

A diferença e a complementaridade físicas, morais e espirituais orientam-se para os bens do matrimônio e para o progresso da vida familiar. A harmonia do casal e da sociedade depende, em parte, da maneira como são vividos, entre os sexos, a complementaridade, a necessidade mútua e o apoio recíproco. (2333)

Provação e Cruz

Para a esmagadora maioria de homens e mulheres, é um dos mais significativos projetos de vida moral, espiritual e psicológico integrar, controlar e canalizar um amplo conjunto de inclinações sexuais que essencialmente se encaixam neste modelo natural, este modelo de complementaridade e de apoio mútuo entre homens e mulheres. Alguns podem voluntariamente renunciar à expressão física desta complementaridade, adotando a virgindade por causa do Reino; outros podem fazê-lo por não terem a oportunidade de casar-se e por desejarem ser castos. Obviamente, ambas as situações podem ser desafiadoras, e a aceitação do estado de solteiro involuntário pode ser um pesada cruz.

Mas uma pessoa com inclinações homossexuais encara um desafio ainda maior. Ele ou ela não deve meramente integrar, controlar e canalizar suas inclinações sexuais, mas deve renunciá-las todas juntas amplamente, não só em sua expressão física, mas também numa extensão bem maior da afetividade, que é condicionada, mesmo em pequenas formas, pela interação sexual: interesse aumentado, um senso de romance, uma ternura especial. É verdade que um sacerdote celibatário deve ser muito cuidadoso com o que poderíamos chamar de afetividade tingida sexualmente, na teoria de que uma coisa leva à outra. Mas a pessoa com persistentes inclinações homossexuais deve suprimir ou redirecionar tais inclinações a uma extensão ainda maior. Este é um enorme desafio.

Agora considere uma tal pessoa numa cultura que está pressionando a todo vapor para que se abrace, se aprove e se glorifique esta mesma afetividade a qual ela é chamada por Cristo a suprimir ou redirecionar. E, finalmente, considere ele (ou ela) numa subcultura de castidade em que se deve constantemente ouvir argumentos contra os posicionamentos dos gays (ou seja,aqueles que advogam um estilo de vida especificamente homossexual), argumentos que às vezes são grosseiramente expressos de formas que denigrem os “homossexuais” de um modo geral e que, mesmo se não são grosseiros, põem sempre suas conflituosas inclinações sexuais diante da mente. Nesta subcultura de castidade – esperamos que seja uma subcultura cristã – outros devem encontrar refúgio de sua longa e cansativa preocupação com suas defesas sexuais, mas não ele.

Quem de nós, em nossos mais altos voos de piedade sacrifical, suplicaria a Deus para carregar esta cruz em particular?

Percepção e Desordem

Num vácuo cultural, deve ser relativamente fácil entender intelectualmente que as inclinações homossexuais são desordenadas. Deve ser bastante claro que as faculdades sexuais são tanto naturalmente ordenadas para a propagação e a preservação das espécies como sobrenaturalmente ordenadas a um tipo de união entre o homem, a mulher e a criança, que espelha a fecundidade essencial do amor Divino. Quando alguém percebe que suas próprias inclinações sexuais não tendem na direção desta união e fecundidade – ou mesmo a esta capacidade de reproduzir – pode-se perceber uma desordem bem definida nestas inclinações. Pode haver algo que se possa fazer para alterá-las. Elas podem ser um conjunto muito confuso de inclinações ligadas a experiências ou hábitos passados, e bem passível de mudança ao passo em que se deixam essas experiências e hábitos. Ou então pode não haver maneira alguma de eliminá-las. Não obstante, que elas sejam desordenadas, isso se pode apreender pelo intelecto.

Mas estamos decaídos, e nossos intelectos obscurecidos, e as ideias predominantes da cultura que nos envolve frequentemente os obscurecem mais e mais. Pode ser muito difícil enxergar o que deve ser óbvio. Em nossa própria cultura, sexualidade é comumente visualizada do ponto de vista do prazer imediato que isso pode proporcionar; seus significados mais profundos e as consequências a longo prazo são tipicamente ignorados. A maioria das pessoas escorrega para dentro de um estilo de vida baseado nesta compreensão relativamente superficial da sexualidade através da prática da contracepção, que distorce a natureza da sexualidade e parece permitir uma definição mais casual. Eis por que, em se tratando da questão da contracepção dentro do matrimônio, o Catecismo cita a Exortação Apostólica Familiaris Consortio (32), de João Paulo II:

“À linguagem que exprime naturalmente a doação recíproca e total dos esposos, a contracepção opõe uma linguagem objetivamente contraditória, segundo a qual já não se trata de se darem totalmente um ao outro. Daí deriva, não somente a recusa positiva da abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interna do amor conjugal, chamado a ser um dom da pessoa toda. [...] Esta diferença antropológica e moral, entre a contracepção e o recurso aos ritmos periódicos, implica dois conceitos de pessoa e de sexualidade humana irredutíveis um ao outro”.

Uma cultura que é construída sobre a premissa de que o significado de sexualidade se esgota em sua capacidade de ser manipulada em vistas do prazer imediato não se possibilita chegar a julgamentos intelectuais bem formados sobre o que é e o que não desordenado. A questão simplesmente nem é levantada. Nossa cultura, portanto, é uma enorme barreira para a autocompreensão de todos os homens e mulheres, e ela coloca obstáculos particulares no caminho daqueles que estão tentando compreender, alterar ou ao menos conviver em paz com suas inclinações por pessoas do mesmo sexo.

Alcance Afetivo

Aqueles de nós cuja afetividade humana não se tornou fundamentalmente problemática pela desordem das inclinações homossexuais devem achar difícil de perceber quão profundamente e de modo tão abrangente nossa afetividade colore nossas vidas inteiras e todos os nossos relacionamentos. Todos nós temos que aprender a controlar nossos gostos e desgostos, nossas reações emocionais, nossas tendências a favorecer alguns e ignorar a outros, o modo como cumprimentamos, o tanto de flerte ou paquera que é aceitável, e o grau em que permitimos atrações que são pelo menos parcialmente sexuais colorirem nosso comportamento. Também aprendemos a moldar a expressão de nossa masculinidade ou feminilidade de vários modos, suavizando arestas, refreando-nos, adaptando-nos à situação.

Para aqueles com uma afetividade heterossexual propriamente ordenada, há um deleite subconsciente geral na interação entre o masculino e o feminino, um sentido de diferença e complementaridade e alegre mistério. Nestas ocasiões, quando agimos inadequadamente, as consequências podem ser desagradáveis, mas tanto nosso alcance afetivo como nossos equívocos são geralmente entendidos. Temos que aprender a comportar-nos de modo diferente – guiando e canalizando nossa afetividade de modo mais adequado e produtivo – mas não temos que suspeitar, rejeitar ou alterar sua orientação básica. Embora nossa sexualidade dê tons e influencie mais ou menos o que fazemos, de forma bem sutil, não há nada sobre isso que devamos fundamentalmente colocar em questão ou duvidar.

Este não é o caso para aqueles cuja afetividade está persistentemente imbuída de inclinações homossexuais. A atração que eles encontram como natural, misteriosa ou até mesmo emocionante será percebida pela maioria das pessoas como algo inexplicável e até repulsivo. Se alguém procura conforto e consolo na companhia da pequena minoria que compartilha estas atrações, os perigos são óbvios. Mas ainda o não fazer isso pode forçar alguém a questionar quanto à própria afetividade em praticamente todos os níveis. Por que tanto do que sinto e de como interajo com os outros está imbuído de um padrão sexual que os outros não podem entender e que costumam rejeitar violentamente? Minha perspectiva inteira e toda minha atitude rumo à vida e ao amor estão fundamentalmente quebradas, danificadas? Sou incapaz de amar? Será que sou até mesmo indigno do amor?

Não tenho dignidade? Se nossa própria afetividade é suspeita, como pode esta questão não surgir? Não quero exagerar. Ainda que toda dificuldade humana possa ser atribuída a alguma classe [de indivíduos], cada dificuldade permanece sobretudo como algo pessoal. A profundidade e a consistências de nossos sentimentos são algo muito pessoal, e pessoas diferentes certamente experimentarão o problema das inclinações homossexuais de formas diferentes, em diferentes graus, e com maior ou menor impacto sobre conceitos mais amplos relativos à sua integridade e valor fundamentais enquanto pessoas humanas. Em geral, todavia, parece ser justo que a questão da auto-estima deva estar por cima sempre que a natureza fundamental da afetividade de alguém for posta em questão. Sendo assim, com esta cruz particular, é provável que surja a tal questão.

Afirmação e Missão

Alguns admiráveis benfeitores do CatholicCulture.org escreveram-me sobre isso, expressando algo de suas provações, suas lutas, sua esperança e sua fé. Isto tem sido inspirador para mim, e estou ainda mais convencido, através destas partilhas, de que sempre que questões devastadoras se levantam na mente e no coração de alguém com persistentes inclinações homossexuais, estas questões devem ser respondidas decisivamente – e sem nenhuma hesitação momentânea – de uma forma que afirme a pessoa como alguém que é amado por Deus e a quem foi confiada uma missão especial.

A tradição Católica é rica no entendimento das almas vítimas, aquelas que parecem ter sido colocadas na terra sobretudo para sofrer fisicamente, talvez por alguma enfermidade ou até mesmo por uma paralisia por toda a vida, abraçando ainda a missão de amar as almas e crescendo numa intensa e frutuosa união com Deus. Todos nós, é claro, somos almas vítimas de uma maneira menor em que cada um de nós tem suas próprias cruzes, tantas das quais são oportunidades para crescimento espiritual e cooperação com Cristo: “O que falta às tribulações de Cristo”, diz São Paulo, “completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24). Assim devemos ser todos nós, se somos Cristãos, e deveríamos nos alegrarmos com as oportunidades. Não obstante, é claro que algumas almas são marcadas para uma missão particularmente óbvia de sofrimento redentor.

Todos nós somos afligidos por deficiências, defeitos e desordens em nossa natureza humana, como resultado da Queda, mas nenhuma deficiência, defeito ou desordem nos vem por acaso. Em todo caso, portanto, essas coisas são cruzes a ser abraçadas pelo nosso próprio bem e pelo bem de outros. E em alguns casos, a deficiência, defeito ou desordem particular oferece um sinal de oportunidade. Trata-se de uma oportunidade de carregar a cruz como uma testemunha particular de algum aspecto da vida Cristã que precisa ser revigorado para que as almas cresçam e prosperem no amor de Deus.

Agora, novamente, algumas pessoas podem achar que são capazes de libertar-se das inclinações homossexuais através de uma mudança no estilo de vida, através de terapia e de oração. Mas é sem dúvida claro que, enquanto são afligidas por esta desordem, elas são chamadas a ser castas. Consideremos novamente o Catecismo (2359):

“As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã”.

Note-se, porém, que algo de precioso segue-se daqui. As pessoas homossexuais, exatamente pela natureza de sua cruz particular, devem elevar a castidade a uma altura especial, tratando não apenas com uma tentação física, mas com o amplo leque de sua própria afetividade humana. Resulta que aqueles que devem sofrer esta desordem no decorrer de sua vida foram escolhidos por Deus para dar um testemunho particular e exaltado à virtude da castidade. Isto é vocação, tão bela quanto árdua, e é de se duvidar que sua importância, para nossa era saturada de sexo, possa ser subestimada.

Deve-se ter cuidado ao empregar termos simples para descrever os outros, dado que tais termos obscurecem mais do que esclarecem, e porque minimizam a rica diversidade da personalidade humana. Mas eu usarei o termo simples aqui pela primeira e única vez neste artigo: O homossexual é chamado a ser uma testemunha especial e extraordinária para o triunfo do amor sobre o sentimento. Existe nisso, penso eu, uma analogia à noite escura da alma. É o próprio Amor que chama o homossexual, talvez numa espécie de escuridão, e é no Amor tão somente – e não no sentimento – que ele trará muitas almas para o céu em seu rastro.